Análise de Conteúdo:
a proposta de Laurence Bardin
Este
trabalho tem por objetivo apresentar a análise de conteúdo como uma das formas
possíveis de tratamento de dados em pesquisa. A proposta aqui discutida é da
professora da Universidade de Paris V, Laurence Bardin.
Situando
a análise de conteúdo na história, vemos que seu berço foi nos Estados Unidos
como um instrumento de análise das comunicações, há mais de meio século. Porém,
a interpretação de textos já era abordada há muito tempo e de diversas formas,
como na hermenêutica, que é a arte de interpretar os textos sagrados ou
misteriosos.
Então, o
que pode ser interpretado? Bardin (1977) nos responde que:
“Mensagens
obscuras que exigem uma interpretação, mensagens com um duplo sentido cuja
significação profunda só pode surgir depois de uma observação cuidadosa ou de
uma intuição carismática.
Por detrás do discurso aparente, geralmente simbólico e polissêmico, esconde-se
um sentido que convém desvendar.”
O
pesquisador que trabalha seus dados a partir da perspectiva da análise de
conteúdo está sempre procurando um texto atrás de outro texto, um texto que não
está aparente já na primeira leitura e que precisa de uma metodologia para ser
desvendado.
A análise
de conteúdo percorreu um caminho por diversas fontes de dados: as notícias dos
jornais, os discursos dos políticos, as cartas trocadas, os anúncios
publicitários, os romances autobiográficos, os relatórios oficiais. No início
desse caminho, a objetividade da análise era perseguida com empenho. Baldiwn, citado
por Bardin (1977), numa tentativa de análise das estruturas de personalidade
pelo estudo sistemático de cartas, propõe uma das primeiras tentativas de
análise de contingência, ou seja, análise de co-ocorrências de associações ou
exclusões de palavras ou temas presentes no material de análise. Aos poucos, a
análise de conteúdo foi interessando pesquisadores da lingüística, da
etnologia, da história, da psiquiatria, da psicanálise, que vieram para somar
com suas pesquisas aos trabalhos de colegas nas áreas da psicologia, das
ciências políticas e do jornalismo.
Surgiram
as discussões sobre as diferenças que existiriam na análise de conteúdo se
fosse enfatizada a abordagem qualitativa ou quantitativa nas pesquisas. Na
análise quantitativa, o que serviria de referencial seria a freqüência com que
surgem certas características do conteúdo. Na análise qualitativa seria a
presença ou a ausência de uma dada característica de conteúdo ou de um conjunto
de características num determinado fragmento de mensagem que é tomado em
consideração. Moreira (2003) traz essa discussão a partir das posições dos
autores Souza Filho e Vala.
Aos
poucos, a exigência da objetividade tornou-se menos rígida e se aceitou a
combinação da compreensão clínica com a contribuição estatística. A análise de
conteúdo começou a ser vista não apenas com um alcance descritivo, mas com um
objetivo de inferência, ou seja, pelos resultados da análise, poder-se-ia
regressar às causas.
Bardin
(1977) nos conta que a partir 1960 três fenômenos afetaram a investigação e a
prática da análise de conteúdo: (1) o recurso de programas de computadores; (2)
o interesse pelos estudos relacionados à comunicação não verbal; (3) a
inviabilidade de precisão dos trabalhos lingüísticos. Os programas de
computadores permitiram uma análise mais detalhada dos textos, no que diz
respeito à sua mensuração, ou seja, à freqüência de uma determinada unidade de
análise; técnicas estatísticas avançadas puderam ser aplicadas. A semiologia
começou, também, a explorar o campo de sistema de signos não lingüísticos,
campo até então inexplorado: a imagem, a tipografia e a música surgiram como
possibilidades de serem trabalhadas através da abordagem da análise de
conteúdo. Da mesma forma, os fundamentos teóricos desses novos campos (estruturalismo,
psicanálise, por exemplo) começaram a questionar o movimento relativamente
linear da análise de conteúdo. Já com a lingüística, surge um questionamento,
visto que a análise de conteúdo é confrontada com uma disciplina solidamente
constituída e metodologicamente confirmada, mas com finalidade diferente.
Há na
análise de conteúdo dois pólos: a rigorosidade e a necessidade de ir além das
aparências. Metodologicamente, existem duas orientações que ao mesmo tempo em
que se confrontam também se complementam: a verificação prudente ou a
interpretação brilhante.
Para
Bardin (1977) a análise de conteúdo de mensagens tem duas funções:
· Uma
função heurística:
- A
análise de conteúdo enriquece a tentativa exploratória, aumenta a propensão à
descoberta; é a análise de conteúdo para ‘ver o que dá’;
· Uma
função de administração da prova:
-
Hipóteses sob a forma de questões ou de afirmações provisórias servindo de
diretrizes, apelarão para o método de análise sistemática para serem
verificadas no sentido de uma confirmação ou de uma infirmação; é a análise de
conteúdo para ‘servir de prova’.
Na
prática essas duas funções se complementam. Bardin (1977) afirma que:
“A
análise de conteúdo (seria melhor falar de análises de conteúdo) é um método
muito empírico, dependente do tipo de ‘fala’ a que se dedica e do tipo de
interpretação que se pretende como objetivo. Não existe o pronto-a-vestir em
análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por vezes,
dificilmente transponíveis. A técnica de análise de conteúdo adequada ao
domínio e ao objetivo pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento,
exceto para usos simples e generalizados, como é o caso do escrutínio próximo
da decodificação e de respostas a perguntas abertas de questionários cujo
conteúdo é avaliado rapidamente por temas.”
A análise
de conteúdo, como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, apesar
de poder ser considerada como um instrumento de análise, é marcada por uma
grande diversidade de formas e é adaptável a um campo de aplicação muito vasto,
ou seja, o campo das comunicações. A análise de conteúdo pode ser uma análise
dos ‘significados’, como na análise temática, ou uma análise de
‘significantes’, como na análise léxica.
Hoje, de
acordo com Bardin (1977), a análise de conteúdo é definida como:
“Um
conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas
mensagens.”
Ferreira
(2003), a partir da abordagem de Bardin, relaciona as possibilidades de uso da
análise de conteúdo:
“A
análise de conteúdo é usada quando se quer ir além dos significados, da leitura
simples do real. Aplica-se a tudo que é dito em entrevistas ou depoimentos ou
escrito em jornais, livros, textos ou panfletos, como também a imagens de
filmes, desenhos, pinturas, cartazes, televisão e toda comunicação não verbal:
gestos, posturas, comportamentos e outras expressões culturais.”
A tabela
abaixo (Tabela 1), extraída de Bardin (1977, p. 35) resume as possibilidades de
aplicação da análise de conteúdo.
Tabela 1
– Domínios da análise de conteúdo
De acordo
com Bardin (1977), a intenção da análise de conteúdo é:
“A
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou,
eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores
(quantitativos ou não).
(...)
Se a descrição (a enumeração das características do texto, resumida após
tratamento) é a primeira etapa necessária e se a interpretação (a significação
concedida a estas características) é a última fase, a inferência é o
procedimento intermediário que vem permitir a passagem explícita e controlada
de uma à outra.”
Estas
inferências procuram esclarecer as causas da mensagem ou as conseqüências que a
mensagem pode provocar.
Para que
possa realizar a sua função de análise das mensagens, a análise de conteúdo
conta com a lingüística e com as técnicas documentais, apesar de construir para
si um campo próprio de investigação. O objeto da lingüística é a língua, no que
se refere ao seu uso coletivo e virtual (como possibilidades de uso) da
linguagem; já a análise de conteúdo tem como objeto a palavra, no que se refere
ao aspecto individual e atual (em ação) da linguagem. Para Bardin (1977), “a
análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens”. No
que se refere às técnicas documentais, o autor afirma que se suprimirmos da
análise de conteúdo a inferência, ficando-nos limitados à análise categorial ou
temática, teremos uma identificação muito grande entre as duas formas de
tratarmos o dado de pesquisa. Porém, apesar das semelhanças aparentes, existem
algumas especificidades de cada uma das abordagens, como resumido na Tabela 2:
Tabela 2
– Análise Documental X Análise de Conteúdo
Análise Documental
|
Análise de Conteúdo
|
Trabalha
com documentos
|
Trabalha
com mensagens (comunicações)
|
Classificação-indexação
|
Categorial-temática
(é apenas uma das possibilidades de análise)
|
Objetivo:
representação condensada da informação para consulta e armazenagem
|
Objetivo:
é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo) para
evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que
não a da mensagem
|
A análise
de conteúdo se organiza em três momentos:
Na
pré-análise se organiza o material, que constitui o CORPUS da pesquisa. Na
exploração do material há três etapas: a) a escolha das unidades de contagem,
b) a seleção das regras de contagem e c) a escolha de categorias. O tratamento
dos resultados compreende a inferência e a interpretação.
Ferreira
(2003) traz o percurso do trabalho com dados de pesquisa a partir da
perspectiva da análise de conteúdo:
·
Pré-análise
- Este
momento é o de organizar o material, de escolher os documentos a serem
analisados, formular hipóteses ou questões norteadoras, elaborar indicadores
que fundamentem a interpretação final.
- Inicia-se o trabalho escolhendo os documentos a serem analisados. No caso de
entrevistas, elas serão transcritas e a sua reunião constituirá o CORPUS da
pesquisa. Para tanto, é preciso obedecer às regras de:
-
exaustividade – deve-se esgotar a totalidade da comunicação, não omitir nada;
- representatividade – a amostra deve representar o universo;
- homogeneidade – os dados devem referir-se ao mesmo tema, serem obtidos por
técnicas iguais e colhidos por indivíduos semelhantes,
- pertinência – os documentos precisam adaptar-se ao conteúdo e objetivo da
pesquisa;
- exclusividade – um elemento não deve ser classificado em mais de uma
categoria.
- O
primeiro contato com os documentos se constitui no que Bardin (1979) chama de
"leitura flutuante". É a leitura em que surgem hipóteses ou questões
norteadoras, em função de teorias conhecidas.
- Através da leitura flutuante, surgem as primeiras hipóteses e objetivos do
trabalho. Hipótese é uma explicação antecipada do fenômeno observado, uma
afirmação provisória, que nos propomos verificar. O objetivo geral da pesquisa
é sua finalidade maior, de acordo com o quadro teórico que embasa o
conhecimento. Nem sempre as hipóteses são estabelecidas na pré-análise, afirma
Bardin (1979); elas podem surgir, assim como as questões norteadoras, no
decorrer da pesquisa.
- Após a leitura flutuante deve-se escolher índices, que surgirão das questões
norteadoras ou das hipóteses, e organizá-los em indicadores.
- Os temas que se repetem com muita freqüência podem ser índices – e "se
recortam do texto em unidades comparáveis de categorização para análise
temática e de modalidades de codificação para o registro dos
dados"(op.cit.).
- A preparação do material se faz pela "edição" das entrevistas
transcritas, dos artigos recortados, das questões anotadas em fichas. A
organização do material se realiza em colunas, com vazios à esquerda e à
direita, para anotar e marcar semelhanças e contrastes. Pode-se usar lápis
colorido, para sublinhar as semelhanças com a mesma cor. Naturalmente, estes
procedimentos dependem dos interesses do pesquisador e dos objetivos que o
levam a realizar a pesquisa.
·
Exploração do material
- Esta é
a etapa mais longa e cansativa. É a realização das decisões tomadas na
pré-análise. É o momento da codificação – em que os dados brutos são
transformados de forma organizada e "agregadas em unidades, as quais
permitem uma descrição das características pertinentes do conteúdo",
segundo Holsti, apud Bardin (1979: 104).
- A codificação compreende a escolha de unidades de registro, a seleção de
regras de contagem e a escolha de categorias.
- a
escolha de unidades de registro (recorte);
· Unidade
de registro é a unidade de significação a codificar. Pode ser o tema, palavra
ou frase. Recorta-se o texto em função da unidade de registro.
· Tema é a afirmação de um assunto. Como unidade de registro, é a unidade que
se liberta naturalmente do texto analisado.
· Todas as palavras podem ser levadas em consideração como unidades de
registro. Serão palavras-chave; palavras-tema; palavras plenas ou vazias;
categorias de palavras: substantivos, adjetivos, verbos, e etc.
· O personagem pode ser escolhido como unidade de registro: traços de caráter,
status social, papel, etc.
· Se o acontecimento for tomado como unidade de registro, o recorte se fará em
unidades de ação, nos casos de filmes, contos, relatos, lendas, etc.
· O documento serve como unidade de registro quando a idéia principal de um
livro, um relato, uma entrevista é suficiente para o objetivo desejado.
· Para estabelecer as unidades de registro, é preciso, às vezes, fazer
referência ao contexto da unidade que se quer registrar. Então, o contexto serve
para compreender a unidade de registro.
- a
seleção de regras de contagem (enumeração);
· a
presença de elementos pode ser significativa.
· a ausência pode significar bloqueios ou traduzir vontade escondida, como
acontece, freqüentemente, nos discursos dos políticos;
· a freqüência com que aparece uma unidade de registro denota-lhe importância.
Se consideramos todos os itens de mesmo valor, a regularidade com que aparece
será o que se considera mais significativo.
· a intensidade será medida através dos tempos do verbo (condicional, futuro,
imperativo), dos advérbios de modo, adjetivos e atributos qualificativos;
· a direção será favorável, desfavorável ou neutra. Os pólos direcionais podem
ser: positivo ou negativo, bonito ou feio (critério estético), pequeno ou
grande (critério de tamanho).
· a ordem de aparição das unidades de registro é possível ser decisiva. Por
exemplo, se o sujeito A está em primeiro lugar e o sujeito D em último, pode
ter significado importante.
· A co-ocorrência é a presença simultânea de duas ou mais unidades de registro.
Este fato nos mostra a distribuição dos elementos e sua associação.
- a
escolha de categorias (classificação e agregação).
· A
maioria dos procedimentos de análise qualitativa organiza-se em torno de categorias.
· A categoria é uma forma geral de conceito, uma forma de pensamento. As
categorias são reflexo da realidade, sendo sínteses, em determinado momento, do
saber. Por isso, se modificam constantemente, assim como a realidade.
· Na análise de conteúdo, as categorias são rubricas ou classes que reúnem um
grupo de elementos (unidades de registro) em razão de características comuns.
· Para escolher categorias pode haver vários critérios: semântico (temas),
sintático (verbos, adjetivos, pronomes), léxico (juntar pelo sentido das
palavras, agrupar os sinônimos, os antônimos), expressivo (agrupar as
perturbações da linguagem, da escrita).
· A categorização permite reunir maior número de informações à custa de uma
esquematização e assim correlacionar classes de acontecimentos para ordená-los.
A categorização representa a passagem dos dados brutos a dados organizados.
· Na atividade de agrupar elementos comuns, estabelecendo categorias, seguem-se
duas etapas: inventário (isolam-se os elementos comuns) e classificação
(repartem-se os elementos e impõem-se certa organização à mensagem).
· Para categorizar, podem empregar-se dois processos inversos: tendo
estabelecido o sistema de categorias, baseado em hipóteses teóricas,
repartem-se os elementos à medida em que são encontrados; é o procedimento de
"caixas", conforme Bardin (1979:119); as categorias emergem da
classificação analógica dos elementos, surgem da análise do trabalho; é o
procedimento por "milha", para Bardin.
· Para serem consideradas boas, as categorias devem possuir certas qualidades:
exclusão mútua – cada elemento só pode existir em uma categoria; homogeneidade
– para definir uma categoria, é preciso haver só uma dimensão na análise;
pertinência – as categorias devem dizer respeito às intenções do investigador,
aos objetivos da pesquisa às questões norteadoras, às características da
mensagem, etc.; objetividade e fidelidade – se as categorias forem bem
definidas, se os índices e indicadores que determinam a entrada de um elemento
numa categoria forem bem claros, não haverá distorções devido à subjetividade
dos analistas; produtividade – as categorias serão produtivas se os resultados
forem férteis em inferências, em hipóteses novas, em dados exatos.
·
Tratamento dos resultados
- A
inferência se orienta por diversos pólos de atenção, que são os pólos de
atração da comunicação. Numa comunicação há sempre o emissor e o receptor, os
pólos de inferência propriamente ditos, além da mensagem e o seu suporte, ou
canal.
- O
emissor é o produtor da mensagem. É um indivíduo ou um grupo de indivíduos. A
mensagem que ele emite, representa-o.
- O receptor pode ser um indivíduo. Assim, o estudo da mensagem pode fornecer
dados sobre o público a que ela se destina.
- A mensagem é o ponto de partida de qualquer análise. Na análise da mensagem,
é possível estudar o continente ou o conteúdo, ou os significantes ou os
significados, ou o código ou a significação.
- O canal, o meio, o instrumento, o suporte material do código, serve mais para
procedimentos experimentais do que para análise de conteúdo.
- Ao se
descobrir um tema nos dados, é preciso comparar enunciados e ações entre si,
para ver se existe um conceito que os unifique.
- Quando se encontram temas diferentes, é necessário achar semelhanças que
possa haver entre eles.
- A proposição é um enunciado geral baseado nos dados. Enquanto os conceitos
podem ou não se ajustar, as proposições são verdadeiras ou erradas, mesmo que o
pesquisador possa ou não ter condições de demonstrá-lo. O certo é que as
proposições derivam do estudo cuidadoso dos dados.
- Durante a interpretação dos dados, é preciso voltar atentamente aos marcos
teóricos, pertinentes à investigação, pois eles dão o embasamento e as
perspectivas significativas para o estudo. A relação entre os dados obtidos e a
fundamentação teórica é que dará sentido à interpretação.
- As interpretações a que levam as inferências serão sempre no sentido de
buscar o que se esconde sob a aparente realidade, o que significa
verdadeiramente o discurso enunciado, o que querem dizer, em profundidade,
certas afirmações, aparentemente superficiais.
- Bardin
(1977) apresenta as possíveis técnicas utilizadas na análise de conteúdo:
análise categorial, análise de avaliação, análise da enunciação, análise da
expressão, análise das relações e análise do discurso.
Um
discurso é determinado pelas condições de produção e pelo sistema lingüístico
ao qual está submetido. Conhecendo-se essas suas esferas de um discurso,
pode-se compreender o processo de produção de um discurso. “O discurso está
situado não só pelo referente como pela posição do emissor nas relações de
força e também pela sua relação com o receptor. O emissor e o receptor do
discurso correspondem a lugares determinados na estrutura de uma formação
social”. (Bardin, 1977)
Então, o
objetivo de uma análise do discurso é descobrir as relações existentes entre o
exterior e o próprio discurso. A técnica da análise do discurso também envolve
operações de desmembramento e de classificação de suas unidades de registro
(classificações semântica, sintática e lógica, simultaneamente). Os operadores
de ligação também são considerados e desempenham um papel importante na
análise.
A análise
de conteúdo possibilita que uma ‘leitura profunda’ das comunicações ocorra,
indo além da ‘leitura aparente’. O papel do analista é semelhante ao do
arqueólogo, do detetive ou do psicoterapeuta. Freud já nos falava da ‘linguagem
oculta’, Vygotsky (2000) nos diz:
“Para
compreender a fala de outrem não basta entender as suas palavras – temos que
compreender o seu pensamento. Mas nem mesmo isso é suficiente – também é
preciso que conheçamos a sua motivação. Nenhuma análise psicológica de um
enunciado estará completa antes de se ter atingido esse plano.”
Lembramo-nos
do excelente filme Mente Brilhante, onde um pesquisador, em seu delírio, é
contratado pelo governo americano para decifrar mensagens de guerra
‘escondidas’ em notícias e anúncios de jornal. Que magnífico exemplo da
aplicação da análise de conteúdo!
Referências
Bibliográficas
Bardin,
L. (1977). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70
Ferreira, B. Análise de Conteúdo.
http://www.ulbra.br/psicologia/psi-dicas-art.htm em 18/01/03
Moreira, E. Análise de Conteúdo: duas perspectivas metodológicas para
interpretação de variáveis qualitativas e quantitativas. http://www.funesc.com.br/engenho2/textos/ecul_x02.htm
em 18/01/03
Vigotski, L. S. (2000). Pensamento e linguagem. - 2a. ed. – São Paulo: Martins
Fontes