Formação
de Professores e Ensino de História: Perspectivas e Desafios
Falar em formação docente e ensino de História na
atual conjuntura sócio/histórico brasileira significa refletir sobre a dinâmica
social e a sua relação direta com o processo de formação e atuação profissional
do professor, pois esta dinâmica, composta pelas questões sociais, políticas,
econômicas, culturais, pelos conflitos e contradições, pelas rupturas, pelas
lutas de classes, etc. estão diretamente ligadas ao processo de formação do
alunado que as escolas recebem e que os professores se relacionam na sua
prática pedagógica diária.
Abordar
essas questões, compreendendo-as como resultado da dinâmica social, significa
tocar no âmago dos inúmeros problemas que a educação brasileira vem vivenciando
cada vez com maior intensidade.
Na atual
conjuntura educacional, não é mais possível continuar vendo a escola como um
campo de atuação das manifestações culturais dominantes, uma vez que a escola
tem como principio básico a formação dos cidadãos nas suas concepções mais
amplas e democráticas, pois vivemos numa sociedade em que as manifestações
políticas e culturais são múltiplas e variadas e, nesse contexto, se faz
necessário a construção de uma prática pedagógica que privilegie as diferenças
existentes no próprio ambiente de sala de aula.
As
diferenças existentes são produto de uma sociedade culturalmente multifacetada
e permeada pelas mais diversas realidades sociais, fruto de um contexto
histórico construído sobre alicerces sociais discriminatórios e excludentes,
onde os valores das camadas dominantes sempre estiveram em primeiro plano,
impedindo a construção de uma sociedade fundada na diversidade e na democracia.
Para
Vasconcelos
A
compreensão desse processo histórico nos aponta para a necessidade de alterar a
situação até hoje existente, no sentido de colocar-se a serviço dos interesses
das camadas e de um projeto de transformação social. (VASCONCELOS, 2005:117).
Nesse
processo, o professor de História ocupa posição central na análise dessa
conjuntura e na possibilidade de construir situações concretas de superação
através da prática pedagógica por ele desenvolvida no interior do espaço
escolar. Essa superação não deve ser um trabalho solitário ou anônimo, mas
fundamentado na construção de um trabalho que envolva o coletivo escolar,
principalmente o corpo docente, através de um trabalho de conscientização dos
mesmos sobre a importância e o poder da ação pedagógica por eles desenvolvida
em seu cotidiano. Assim, através de um trabalho coletivo, as possibilidades de
avanço e sucesso desse empenho obterão resultados mais consistentes.
Historicamente, a prática educativa esteve condicionada
pelo contexto histórico e a escola como “representante oficial” dos interesses
dominantes. A superação dos problemas didáticos e metodológicos deve ser uma
preocupação constante do professor de História, pois as mesmas são vitais no
processo de ensino e aprendizagem realizada em sala de aula. No entanto, essa
superação só ocorrerá através de uma busca constante pela atualização e
formação continuada do professor, aliada a uma análise/reflexão crítica e
cotidiana da sua própria prática pedagógica.
Segundo Fonseca, é preciso pensar a disciplina de
história como:
(...) disciplina fundamentalmente educativa, formativa, emancipadora e
libertadora. A história tem como papel central a formação da consciência
histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades, a elucidação
do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva (2003: 89).
O papel
de “formadora, emancipadora e libertadora” da disciplina de História, só
possuirá eficácia através do trabalho realizado pelo professor em sala de aula
e sua interação com os alunos. Por isso a importância do mesmo em buscar uma
aproximação com as questões ensinadas e a realidade vivida pelo público
escolar. Levar em consideração a diversidade social e cultural existente em
cada realidade escolar e adequar as abordagens realizadas em sala de aula a
estas realidades, não vai resolver todos os problemas, mas é o primeiro e mais
importante passo a ser dado por todos aqueles que acreditam na inclusão e na
luta pela democracia social.
Para que
isso seja possível,
(...) o
professor de história, com sua maneira própria de ser, pensar, agir e ensinar,
transforma seu conjunto de complexos saberes em conhecimentos efetivamente
ensináveis, faz com que o aluno não apenas compreenda, mas assimile, incorpore
e reflita sobre esses ensinamentos de variadas formas. É uma reinvenção
permanente (FONSECA, 2003:71).
A atuação pedagógica do educador traz consigo uma gama de significados e
simbolismos produzido na sua trajetória de vida. Essas representações irão
atuar de forma significativa na vida e na formação do educando, através da
relação deste com o educador e seu trabalho.
Nesse contexto, a prática pedagógica do professor de história
(...)
ajuda o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessárias para aprender a
pensar historicamente, o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançando os germes do
histórico. Ele é o responsável por ensinar ao aluno como captar e valorizar a
diversidade das fontes e dos pontos de vista históricos, levando-o a
reconstruir, por adução, o percurso da narrativa histórica. Ao professor cabe
ensinar ao aluno como levantar problemas, procurando transformar, em cada aula
de história, temas e problemáticas em narrativas históricas (SCHMIDT e
CAINELLI, 2004:30).
Assim, a
aula de história possibilita a construção do saber histórico através da relação
interativa entre educador e educando, transformando essa prática em ato
político, no sentido de transformação consciente do fazer histórico. Nesse
contexto, salienta-se a importância do professor ser também um pesquisador e
produtor do conhecimento e não apenas um mero executor de saberes já
produzidos.
Nesse
processo, a didática possui papel relevante no sentido de possibilitar a
transformação de um saber histórico em um saber compreensível e atuante para a
compreensão do aluno, tornando-o capacitado a não só conhecer o saber
histórico, mas também de torná-lo um participante ativo do pensar e do narrar
os fatos históricos.
Assim, a
didática é elemento fundamental nesse processo de transformação daquilo que se
ensina e do significado histórico/social do que se ensina. A história possui
significados que precisam ser compreendidos pelos educandos para que haja
transformação.
Nesse
processo, não podemos esquecer da realidade social, política, econômica e
cultural em que vivemos e da realidade encontrada em cada escola e,
consequentemente, em cada sala de aula. Torna-se importante salientar que cada
aula é única e que a na realidade da sala de aula, possuímos alunos reais,
concretos, afetados pelas influências históricas, sociais, políticas,
econômicas, culturais, etc., e estas influências atuam sobre seu modo de ser,
ver, compreender e atuar no mundo.
Nesse
sentido, precisamos conhecer a realidade multifacetada e compreender como as
mesmas são produzidas para, a partir dessa compreensão, criar mecanismos que
possam ser eficazes e condizentes com a realidade vivenciada por cada professor
em sua atuação profissional, pois, é para esses alunos reais que precisamos
direcionar nossa prática pedagógica, vislumbrando o processo de inclusão e de
emancipação.
Um
educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para
a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de
sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está
fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação.
A avaliação, neste contexto, terá de ser uma atividade racionalmente definida,
dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de
todos para a participação democrática da vida social (Luckesi, 1984: 46).
No
ambiente educacional ingressam alunos de diferentes origens, culturas, níveis
de desenvolvimento intelectual e idades. Essas diferenças representam as
experiências de vida e conhecimentos adquiridos num meio sócio-cultural
distinto para cada aluno. A construção do conhecimento ocorre através da
interação do sujeito com a sociedade/grupo em que está inserido. Nesta, cada
sujeito participa de uma vivência específica, produzindo com isso, um acúmulo
de conhecimentos/saberes também específicos.
As
individualidades representam as diferenças culturais que existem em uma
determinada sociedade. Não valorizar essas diferenças que cada aluno traz
consigo num processo de ensino e aprendizagem seria, no nosso entendimento, um
modo de encaminhar os sujeitos para a exclusão.
Como
lembra Sant’Ana:
É fundamental
ver o aluno como um ser social e político sujeito do seu próprio
desenvolvimento. O professor não precisa mudar suas técnicas, seus métodos de
trabalho, precisa, isto sim, ver o aluno como alguém capaz de estabelecer uma
relação cognitiva e afetiva com o meio circundante, mantendo uma ação
interativa capaz de uma transformação libertadora (1995:26).
O ensino
de História torna-se fundamental para a compreensão dos fatos históricos e para
a sua articulação com a história/realidade presente, uma vez que o presente é
fruto da dinâmica dos acontecimentos históricos do passado. Nesse sentido, o
ensino de História possui papel relevante na superação da exclusão social, na
construção da cidadania e na emancipação social e política dos sujeitos
históricos. Em suma, ensinar história é agir em função de metas e objetivos
conscientemente perseguidos no interior de um contexto de atuação educacional,
permeada pelos desafios cotidianos e pela burocratização do ensino.
Olá, professor Luis. Cheguei até aqui depois de um comentário seu em meu blog (www.professorjunioronline.com). Costumo ver o perfil de quem comenta e assina minhas postagens e quando li que você ama o que faz e quer melhorar a qualidade de ensino no nosso país, me fez lembrar que, apesar de tudo, não estamos sozinhos e que alguns, como nós, ainda querem ver realmente uma educação de qualidade para nossos alunos. Moro no Estado do Paraná, lugar da, segundo propagandas oficiais, "melhor educação do país"... Só quem está dentro das salas de aula para saber a verdade e a farsa escondida por números.
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